Normalmente, ninguém
convida um amigo para algo aparentemente ruim, pois queremos fortalecer mais e
mais os laços fraternos, principalmente pelo fato de ser tão difícil encontrar
um que atenda nossos exigentes requisitos. Entretanto, como o reino de Deus
está sempre em oposição aos poderes deste mundo caído, às vezes, o que é ruim sob
o prisma deste, é motivo de gozo e contentamento, consoante os parâmetros
estabelecidos por aquele.
O apóstolo Paulo escreve
duas cartas pastorais para o seu filho na fé, Timóteo. Suas orientações,
baseadas nas experiências vividas no campo missionário e na inspiração recebida
pelo Espírito Santo, tinham for finalidade principal capacitar aquele novo
obreiro de modo a poder cumprir com excelência o ministério que recebera do
Senhor Jesus. Aparentemente, Timóteo, apesar de apresentar características que
comprovariam seu chamado, mesmo assim necessitava
ser supervisionado por alguém com uma bagagem como a que Paulo possuía. Na sua segunda
carta, Paulo relembra seu aprendiz de como ele fora ungido e, automaticamente,
capacitado para liderar aquele rebanho em Éfeso. Alguns estudiosos afirmam que
Timóteo era muito tímido e precisava vencer essa limitação para prosseguir na
missão de conduzir a igreja aos seus novos desafios. Para tanto, necessitaria
de poder, intrepidez, derramados pelo Espírito Santo ao que o busca; amor pelas
almas perdidas e equilíbrio emocional (2Tm 1.6-7). Características fundamentais
para enfrentar as perseguições que sempre assolaram a igreja cristã até hoje.
Paulo não esconde nada de Timóteo. Abrindo um parêntese aqui, hoje, há uma
tendência de romantizar demais o cristianismo, talvez, quem assim o faça, seja
por receio de assustar e desencorajar os novos discípulos. Apresentam um
evangelho triunfalista, onde não há possibilidade alguma para sofrimentos,
exceto se essa pessoa estiver vivendo em desobediência a Deus, ou seja, uma
meia verdade.
Paulo encoraja Timóteo,
convidando-o a participar com ele dos sofrimentos oriundos da pregação do Evangelho
(2Tm 1.8). Jesus fez algo parecido com seus discípulos ao deixar bem claro para
eles que assim como o perseguiram, o difamaram e o maltrataram até a morte, e,
morte de cruz, também fariam o mesmo com todos os seus seguidores (Jo 15.20). Se
Paulo simplesmente fizesse o convite sem expor as motivações, poderíamos dizer
que ele estaria desanimando seu aluno, mas não é isso que acontece. Ele aponta
novamente para Cristo, aquele que padeceu e morreu, mas ao terceiro dia
ressuscitou, vencendo a morte de uma vez por todas e o mesmo acontecerá com
todos que o seguirem (2Tm 1.10-12).
Desta forma, se sofrermos
neste mundo por estar obedecendo à Palavra, buscando incansavelmente a
santidade, não por vanglória ou por medo do inferno, mas com a admirável
motivação de nos tornarmos cada vez mais parecidos com Cristo, glorificaremos a
Deus em todo o tempo e seremos mais que vencedores (1Pe 2.19-25; 3.14-17).
Juvenal Netto